Tal como sucedeu com muitos dos seus contemporâneos, Carlos Seixas, compositor, cravista e organista da corte de D. João V, teve uma curta existência que não excedeu os 38 anos.
Nasceu em Coimbra, em 11 de Junho de 1704, veio com 16 anos para Lisboa e aqui morreu em 25 de Agosto de 1742. Foi um brilhante improvisador e as cerca de 150 composições da sua autoria que chegaram até nós -- tocatas, minuetes, fugas, peças religiosas -- colocam-no entre os maiores compositores portugueses, nomeadamente no domínio da música de tecla. Da sua arte refinada se diz que o célebre italiano Domenico Scarlatti, quando esteve em Portugal como mestre de música dos filhos do Rei Magnânimo, afirmou, após ouvir Carlos Seixas, que " ele (Seixas) é que me pode dar lições" e "é dos maiores professores que tenho ouvido".
Carlos Seixas - José António Carlos de Seixas ou, simplesmente, Carlos Seixas como é mais conhecido, deve ter estudado com seu pai, cujas funções desempenhou depois da sua morte. Mas por pouco tempo - uns dois anos - pois que em 1720 se fixou em Lisboa.
Apesar da sua juventude, Seixas ganhou fama de músico excelente, que parece trazia já de Coimbra e se avolumou na capital.
Não tardou a nomeação para organista da Sé Patriarcal, significando, ipso facto, que Seixas passava a pertencer à capela régia.
Ficou notícia de o Infante D. António, irmão de D. João V, ter encarregado Domenico Scarlatti de dar lições a Carlos Seixas. Porém, mal este pôs as mãos no teclado, o mestre napolitano teria dito que nada poderia ensinar ao português, antes aprender com ele. E a sua informação ao infante seria de que Seixas era um dos melhores músicos que em toda a sua vida tinha ouvido. Seja ou não verídico o episódio, e mesmo que não dêmos todo o crédito, por princípio, à reputação que em seu tempo tiveram os artistas, as obras de Carlos Seixas que chegaram aos nossos dias não permitem hesitações em contá-lo entre os maiores compositores portugueses.
Na maior parte, as peças de Carlos Seixas são para orgão e para cravo, geralmente denominadas tocata ou sonata, termos que, neste caso, são sinónimos. Conservam-se poucas obras para orquestra - uma abertura, uma sinfonia e um concerto para cravo e orquestra de arcos - e alguns trechos de música vocal e religiosa. O estilo reflecte com nitidez a influência italianae não pode confundir-se com os dos compositores portugueses renascentinos, pois que tem implícito muito do que de novo trouxera o movimento chamado barroco, possuindo mesmo já marcas nítidas do gosto galante que lhe sucedeu. Modelos franceses terão porventura servido também ao notável compositor, designadamente na abertura (Overture) acima mencionada.
A debatida questão de saber se Carlos Seixas sofreu ou exerceu influência em Domenico Scarlatti, quando da estada deste em Lisboa , é talvez impossível de resolver dentro do são critério. No entanto, desde que parece provada a data avançada das mais representativas obras do napolitano, devemos inclinar-nos à tese do musicólogo Santiago Kastner, segundo a qual Scarlatti aceitou de Seixas ideias fecundas para a sua arte genial. Kastner aponta também, em duas sonatas de Scarlatti, a influência do folclore português : uma canção da Estremadura e um fandango.
A comparação entre os dois compositores esbarra com a grande disparidade das suas vidas. Scarlatti morreu aos 72 anos, Seixas aos 38 ! Pode, todavia, afirmar-se que o italiano demonstra mais sólida preparação técnica, que é mais rica a sua invenção, mais variada e equilibrada a sua planificação formal, mais brilhantes os efeitos que obtém. Em Seixas vale mormente a inspiração melódica de índole lírica, subjectiva, por vezes melancólica, na qual têm sido apontados caracteres essencialmente portugueses, quiçá realçados pela lembrança da poética paisagem coimbrã.
A primeira metade do século XVIII significa para Portugal uma época de grandioso esplendor. Durante o reinado de D. João V (1706-1750), a Corte de Lisboa era considerada uma das mais dispendiosas e magníficas do continente europeu.
Neste ambiente de uma Corte tão opulenta, as Artes, e entre elas também a Música, aproveitaram de uma maniera extraordinária. Começou a notar-se uma certa viragem para os ideais artísticos da Europa Central, graças a D. João V, que conhecia perfeitamente a tradição musical da Alemanha e da Áustria através da sua mãe, D. Maria Sophia de Pfalz-Neuburg e através de sua mulher, Dona Maria Anna de Áustria.
A grande preferência de D. João V pelo pomposo cerimonial litúrgico bem como a paixão do princípe D. José (como D. José I Rei de Portugal entre 1750 e 1777) pela ópera, originaram uma forte preponderância da música italiana cujo estilo e linguagem sonora iriam marcar todos os músicos portugueses dos anos setecentistas.
Tal como Domenico Scarlatti, Giovanni Giorgio ou David Perez, muitos músicos italianos viveram naquela época em Portugal, trabalhando como mestres de capela, cantores, instrumentistas ou professores de música na Corte e nas casas nobres. Uma série de jovens músicos portugueses formados no novo Seminário Patriarcal - criado no ano de 1713 e da maior importância como centro de formação musical durante todo o século XVIII - foram mandados pelo Rei como bolseiros para Itália a fim de se aperfeiçoarem na sua arte. Assim, pode observar-se que, a partir de 1730, os lugares importantes na vida nacional do país passam a ser, pouco a pouco, ocupados também por artistas como António Teixeira, Francisco António de Almeida, ou João Rodrigues Esteves, músicos que, graças aos estudos realizados em Itália, ainda mais fizeram crescer o predomínio do estilo musical italiano em Portugal.
No entanto, o instrumento preferido é, sem dúvida, o cravo ao qual se dedicam ferventes "amadores de música", personalidades dos mais altos círculos da Corte, a própria Rainha Dona Maria Anna, o irmão e a filha de D. João V ou seja D. António e D. Maria Bárbara. E tem a sua lógica nós encontrarmos várias obras de música de câmara publicadas nos anos 20 e 30 com dedicatória a estas personagens.
A própria vinda de Domenico Scarlatti insere-se neste contexto, uma vez que ocupou, a partir de 1720 e até 1729, os lugares de mestre da capela real e de professor de cravo de D. António e D. Maria Bárbara.
Nos anos antes da sua partida para Espanha, onde se deslocou no séquito da sua discípula que iria, como esposa do príncipe das Astúrias, ser a futura rainha daquele país, Scarlatti teve a seu lado Carlos Seixas como vice-mestre e organista da capela real.
LINKS EXTERNOS
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Academia de Música de Santa Cecília